Energia limpa supera 40% da geração global com crescimento recorde em 2024

Publicado em: 22 de abril de 2025

Energia limpa supera 40% da geração global com crescimento recorde em 2024

BERLIM, ALEMANHA(FOLHAPRESS) – A energia limpa respondeu por 40,9 % da geração global de eletricidade em 2024. É a primeira vez que o patamar de 40% é superado desde os anos 1940, quando o sistema elétrico do planeta era 50 vezes menor, e a parte renovável se resumia na prática à geração hidrelétrica. O Brasil contribuiu para a marca ao tornar-se o quinto maior gerador de energia solar no mundo, passando a Alemanha, referência no setor.
Os dados fazem parte do relatório anual da Ember, think tank de energia, e mostram o copo meio cheio do setor: pela primeira vez as fontes eólica (8,1%) e solar (6,9%) juntas superaram a hidrelétrica (14,3%), acossada por secas em diversas regiões do globo; as duas fontes renováveis foram os motores de um novo recorde de geração de energia limpa em 2024, 49% maior do que o anterior, de 2022 (858 terawatt-horas contra 577 TWh).

O copo meio vazio é a constatação de que os combustíveis fósseis ainda lideram o ranking com folga, carvão (34,4%) e gás (22%) à frente. O crescimento anual desse tipo de geração, entre os principais responsáveis pelo aquecimento global, foi de 1,4%, com 223 milhões de toneladas de CO2 emitidas. A constatação irônica do estudo é que esse incremento de energia suja seria dispensável se as ondas de calor, efeito direto da crise climática, não tivessem varrido o planeta no ano passado, demandando energia extra em itens como refrigeração e ar condicionado.

A análise da Ember constata que países mais afetados pelo aumento de temperatura responderam com mais energia produzida por fontes fósseis, como China e Índia, com maior consumo de carvão, e os EUA, com gás.

Em termos globais, 2024 foi o ano mais quente da história da humanidade. Foi também o ano em que a demanda mundial por energia ultrapassou pela primeira vez a marca de 30.000 TWh. Comparado a taxas de crescimento inferiores do PIB em diversos países, o aumento de consumo evidencia o fator sazonal provocado pela crise climática.

O crescimento no uso de fontes renováveis, porém, conseguiu dar conta de três quartos desse incremento global de demanda; a fonte solar, sozinha, cobriu 40% do consumo extra. “A energia solar teve uma transição tecnológica muito rápida e, como resultado, se tornou simples de implantar. É modular, muito flexível. É também a forma mais acessível de eletricidade”, afirma Nicolas Fulghum, um dos autores do relatório.

Desde 2012, a geração obtida por meio de placas solares dobra a cada três anos. No ano passado, obteve um crescimento anual de 474 TWh, o maior da história em termos absolutos. É a modalidade que mais cresceu nas duas últimas décadas. Sozinha, sua geração mundial conseguiria abastecer a Índia por um ano e ainda evitar o equivalente às emissões do setor energético dos EUA pelo mesmo período.

A ascensão das fontes renováveis, diz Fulghum, é um caminho sem volta. “Acreditamos que a eletricidade limpa crescerá rápido o suficiente para atender a todo o novo crescimento da demanda entre agora e 2030”, afirma o analista, ciente de que sua resposta soa muito otimista perto das últimas previsões da AIE (Agência Internacional de Energia).

Segundo a entidade, ligada à OCDE, metade da energia produzida nos EUA na próxima meia década será devorada no desenvolvimento de inteligência artificial. No conjunto dos países desenvolvidos, data centers serão responsáveis por 20% da conta. “Há uma enorme incerteza sobre o quanto isso crescerá. Entre o cenário mais baixo e o mais alto, há uma demanda de eletricidade equivalente a todo consumo da Austrália”, explica o pesquisador.